Tuesday, June 29, 2004

Problemas Técnicos

À minha frase 'Ainda estou para perceber qual a justificação constitucional para convocar eleições antecipadas ...', comentário a um post do meu amigo CC, respondeu-me este com um simples e directo: 'AR, se leres o artº 195º da CRP encontras a "justificação constitucional" que procuras'. Fui ler.
Reza assim o artº 195º da CRP:

"1. Implicam a demissão do Governo:
a) O início de nova legislatura;
b) A aceitação pelo Presidente da República do pedido de demissão apresentado pelo Primeiro-Ministro;
c) A morte ou impossibilidade física duradoura do Primeiro-Ministro;
d) A rejeição do programa do Governo;
e) A não aprovação de uma moção de confiança;
f) A aprovação de uma moção de censura por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções.

2. O Presidente da República só pode demitir o Governo quando tal se torne necessário para assegurar o regular funcionamento das instituições democráticas, ouvido o Conselho de Estado.
"

Lidas as diversas alíneas com algum cuidado (e relidas), continuo a não encontrar a tal justificação constitucional. A tal para a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições, entenda-se.

Fui ver as competências do PR. Artº 133º da CRP:

Compete ao Presidente da República, relativamente a outros órgãos:
...
e) Dissolver a Assembleia da República, observado o disposto no artº 172º, ouvidos os partidos nela representados e o Conselho de Estado;
f) Nomear o Primeiro-Ministro, nos termos do nº 1 do artigo 187º;
g) Demitir o Governo, nos termos do nº 2 do artigo 195º e exonerar o Primeiro-Ministro, nos termos do nº 4 do artigo 186º;
...


Também aqui não encontro justificação constitucional para a dissolução do Parlamento.

Ora, resultando daqui que não existe motivo constitucional para a dissolução, resta a opção política.
Aquilo que a oposição, e com particular ardor o BE, defende é que a derrota eleitoral de há poucas semanas justifica a dissolução do Parlamento. O argumento é notável.
As eleições foram para o Parlamento Europeu. Apesar disso, devem ter repercussões internas, justificando a dissolução do Parlamento nacional. Mas isso apenas se o PM se demitir (e nesta altura já sabemos que se vai demitir). Porque se isso não acontecesse, então não haveria lugar à dissolução do Parlamento. Ou seja, se se mantivesse o mesmo PM e o mesmo mau governo (no dizer da Oposição) então ficava tudo na mesma. Por conseguinte, a prática democrática e constitucional de procurar uma solução dentro do quadro parlamentar não vale. E não vale porque não. O Parlamento tem legitimidade para manter o governo actual mas não tem para procurar uma solução para formar um novo governo, no âmbito do mesmo quadro e no seio da mesma maioria. Que, segundo a Oposição, não tem legitimidade. Uma maioria parlamentar eleita há dois anos não tem legitimidade porque ... perdeu umas eleições para o Parlamento Europeu!
Eu sei que a Oposição que temos é uma Oposição da treta. Que, em particular, a do BE é trauliteira. Mas que hajam pessoas de bom senso, nomeadamente no PS, a seguir essa lógica para-revolucionária é que me deixa espantado.
AR

Monday, June 28, 2004

Verniz

É nestas alturas que lhes cai o verniz. Quando há uma pequena possibilidade de "armar confusão", ao melhor estilo revolucionário, eis que as esquerdas não democráticas fazem 'gato sapato' da Democracia e das regras democráticas instituídas e querem subverter o sistema. Mas afinal isso faz sentido, vindo de quem vem, não é?
Que me lembre, o actual Parlamento foi eleito para 4 anos, o voto foi nos partidos e uma derrota eleitoral para umas eleições europeias não coloca em causa a sua legitimidade.
Ou está-me aqui a escapar alguma coisa?
AR

Surprise, surprise

Para meu espanto (e julgo que não apenas para mim), o nosso bem-amado primeiro-ministro foi convidado para presidir à Comissão Europeia. Honra-nos vagamente enquanto país, honra-o muito enquanto político.
Mas esta sucessão de honrarias criou alguns problemas internos sobre os quais gostava de dar uns palpites.
Antes de mais, a questão governativa. As esquerdas (a democrática e as não democráticas) apressaram-se a pedir a dissolução do Parlamento e a convocação de eleições gerais. Não me parece haver motivo para tal. O país não travessa nenhuma crise institucional que ponha em causa a República nem a maioria parlamentar está em causa. A mudança de primeiro-ministro não resulta de nenhum problema grave que ameace o país mas é antes um acontecimento que, de nenhuma forma, resulta de qualquer crise ou evento grave na vida do país. Parece-me, por isso, que o pedido de eleições antecipadas é deslocado e motivado apenas por interesses partidários (agora que os tempos piores estão a ficar para trás).
A segunda questão que se coloca é a sucessão do próprio Durão Barroso. A hipótese PSL, que ganhou forma e força no Sábado, é absolutamente aterrorizadora. Se em Lisboa tem sido o caos que quem por aqui vive e/ou trabalha conhece, imagine-se isto à escala nacional. Seria, seguramente, o equivalente, do PSD, do Engº Guterres. Já as reacções que se começaram a verificar Domingo têm-me dado algum alento. Aparentemente, os 'barões' do PSD não estão pelos ajustes com a solução PSL via Conselho Nacional. Querem um Congresso. Parece-me bem. PSL (ou outro qualquer) tería legitimidade interna próxima do nulo se escolhido pelo Conselho Nacional. É nos Congressos, seguindo as regras da Democracia, que se escolhem os dirigentes partidários. E talvez aí haja esperança de aparecer alguém bem mais capaz do que PSL para governar este país. Se ele for o que de melhor o PSD tiver para apresentar ao país então estamos conversados.
AR

Friday, June 25, 2004

Como uma força que ninguém pode parar

Não via a Av. da Liberdade cheia desde 1986 (vai para 20 anos ... enquanto o tempo passa), na campanha para as Presidenciais. A visão não me é indiferente. Porque não me é indiferente ver o país unido (ainda que por causa do futebol), a partilhar um sonho. Porque não me é indiferente ver e sentir a alegria das pessoas (ainda que por causa do futebol).
Se outro motivo não houvesse, apenas por isto já tinha valido a pena o Euro 2004.
AR

Wednesday, June 23, 2004

Absoluto

Meu amor por ti é sem reservas.
Tudo és tu e tu és tudo.
Porque se assim não fosse seria absurdo,
Como qualquer dia que não nascesse das trevas.

Meu amor por ti é absoluto.
Exclui o que não és e por isso exclui nada.
Porque sendo tudo tu e tu tudo,
Por amar sobrava nada.

Tu és vento que sopra em mim,
Cheiro total e permanente de jasmim,
Que tudo inunda, marca, ocupa, preenche.

Tu és Sol que a cada manhã nasce,
Luz do dia que procura novo enlace,
Ocaso que me abraça, finalmente.

AR

Tuesday, June 22, 2004

Hoje ...

... é o primeiro dia do resto da minha vida.

AR

De homossexualidade & preconceitos

Este foi o título de um eMail que recebi. Não resisti a transcrevê-lo na íntegra.

Recentemente, uma célebre animadora de rádio dos EUA afirmou que a homossexualidade era uma perversão: « É o que diz a Bíblia no livro do Levítico, capítulo 18, versículo 22: " Tu não te deitarás com um homem como te deitarias com uma mulher: seria uma abominação". A Bíblia refere assim a questão. Ponto final », afirmou ela.

Alguns dias mais tarde, um ouvinte dirigiu-lhe uma carta aberta que dizia:

"Obrigado por colocar tanto fervor na educação das pessoas pela Lei de Deus. Aprendo muito ouvindo o seu programa e procuro que as pessoas à minha volta a escutem também. No entanto, eu preciso de alguns conselhos quanto a outras leis bíblicas. Por exemplo, eu gostaria de vender a minha filha como serva, tal como nos é indicado no Livro do Êxodo, capítulo 21, versículo 7. Na sua opinião, qual seria o melhor preço? O Levítico também, no capítulo 25, versículo 44, ensina que posso possuir escravos, homens ou mulheres, na condição que eles sejam comprados em nações vizinhas. Um amigo meu afirma que isto é aplicável aos mexicanos, mas não aos canadianos. Poderia a senhora esclarecer-me sobre este ponto? Por que é que eu não posso possuir escravos canadianos?

Tenho um vizinho que trabalha ao sábado. O Livro do Êxodo, capítulo 25, versículo 2, diz claramente que ele deve ser condenado à morte. Sou obrigado a matá-lo eu mesmo? Poderia a senhora sossegar-me de alguma forma neste tipo de situação constrangedora? Outra coisa: o Levítico, capítulo 21, versículo 18, diz que não podemos aproximar-nos do altar de Deus se tivermos problemas de visão. Eu preciso de óculos para ler. A minha acuidade visual teria de ser de 100%? Seria possível rever esta exigência no sentido de baixarem o limite?

Um último conselho. O meu tio não respeita o que diz o Levítico, capítulo 19, versículo 19, plantando dois tipos de culturas diferentes no mesmo campo, da mesma forma que a sua esposa usa roupas feitas de diferentes tecidos: algodão e polyester. Além disso, ele passa os seus dias a maldizer e a blasfemar. Será necessário ir até ao fim do processo embaraçoso que é reunir todos os habitantes da aldeia para lapidar o meu tio e a minha tia, como prescrito no Levítico, capítulo 24, versículos 10 a 16? Não se poderia antes queimá-los vivos após uma simples reunião familiar privada, como se faz com aqueles que dormem com parentes próximos, tal como aparece indicado no livro sagrado, capítulo 20, versículo 14?

Confio plenamente na sua ajuda


AR

Monday, June 21, 2004

Carago

Apesar dos votos do meu amigo CC e da sua felicidade do início, a minha, nossa selecção venceu ontem. Venceu bem como teria perdido ou empatado bem, não só porque o jogo foi bem jogado e o resultado se manteve uma incógnita até ao fim como porque é a minha, nossa.
Estou muito satisfeito por isso e hoje, em homenagem a esse 'feito', vou tentar fazer o menos possível.
AR

Friday, June 18, 2004

Hoje ...

... não me apetece escrever. Bom fim de semana.
AR

Thursday, June 17, 2004

A nossa selecção

A minha selecção ontem venceu o jogo. Fiquei satisfeito, não porque tenha jogado particularmente bem ou porque tenha marcado muitos golos, mas porque é a minha selecção.
No próximo Domingo jogamos com a Espanha. Grosso modo, se não ganharmos não passamos, mas ainda que isso aconteça não ficarei aborrecido nem direi que não prestam porque é a minha selecção. Trazem vestidas as cores do meu coração e cantam o hino do meu país. São os meus jogadores, aqueles em quem deposito esperanças de ter muitas alegrias e a quem apoiarei se as coisas correrem mal e ficarmos por aqui.
A nossa selecção é assim mesmo. Pode ganhar e pode perder, conseguir grandes vitórias ou sofrer grandes derrotas. Mas estou com eles, indefectivelmente, porque são os meus.
AR

Wednesday, June 16, 2004

Climax

Quero abarcar todo o Mundo
Num brilhante e único instante.
Basta-me apenas e só um segundo
Para sentir o seu pulsar inebriante.

Busco maravilhas, encanto, amor.
Procuro tudo, tudo e não pretendo
Dar espaço e tempo ao desespero ou dor.
E tudo quero, agora, já, neste momento.

Não quero esperar mais. Nem por ti
Nem por ninguém. Não posso nem quero
Dizer, depois, que não vivi.

Porque se paro apenas um pouco desespero
E antes quero dizer mais tarde que sorri
Do que lamentar-me um instante porque paro.

AR

Tuesday, June 15, 2004

A borboleta amarela

Por vezes, o calor era difícil de suportar. E ali estavam, fechados, a resistir ao chamar convidativo do dia. Não falavam um com o outro, mas isso não era importante porque sabiam os seus segredos mais íntimos.
A borboleta amarela volteou em torno deles e pediu-lhes para a seguirem. Ele levantou-se e estendeu-lhe a mão. Ela hesitou por um instante, os seus olhos verdes a mostrarem a luta que se desenrolava dentro de si.
Finalmente estendeu o braço e tocou os dedos dele. As paredes já ali não estavam. Elevavam-se agora no ar, leves, seguindo o voltear da borboleta amarela. A brisa morna da tarde beijava-lhes o rosto enquanto lá em baixo se desenhava uma longa linha de praia. A areia amarela parecia cintilar ao mesmo tempo que as ondas se aconchegavam no seu colo morno.
Desceram lentamente e tocaram a superfície da água. Estava fria. O Mar falou com eles e convidou-os a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Ela conduziu-os depois a um imenso prado verde, salpicado de papoilas. Os seus pés tocaram a terra e sentiram a sua frescura e as papoilas convidaram-nos a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Subiram então, e tocaram os mais altos cumes das mais elevadas montanhas. Ali o gelo nunca desaparecia e sentiram o seu frio quando lhe tocaram. Era branco e reflectia a luz do Sol como se do próprio Sol se tratasse e o Vento convidou-os a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Ela levou-os então mais alto, acima da mais alta das nuvens. Ali ficava a casa do Tempo. Nos seus imensos salões brincava a brisa da tarde, eterna, e o cheiro a jasmim parecia querer brincar às escondidas com eles. Dos seus jardins, suspensos entre os raios do Sol, a água cantava e chamava-os. Dali viam todos os mares e todas as praias, todos as montanhas e todos os prados, dali ouviam o chamamento do mar e das papoilas.
O Tempo não os convidou a ficar. Mas não mais largaram as mãos e ali ficaram, encantados pelo baile da borboleta amarela.
AR

Europeias

Apesar do atraso (um maravilhoso dia de férias) não queria deixar de dar aqui a minha opinião sobre as eleições deste Domingo.
A derrota do PSD e do PP foi evidente. É pesada e razoavelmente merecida. Tanto mais que o PSD sozinho tinha tido melhores resultado que em coligação com o PP. É caso para o Dr. Barroso pensar no assunto. Infelizmente beneficia dela um partido, o PS, que tem a sua (decisiva) quota parte de responsabilidade na má situação que vivemos. Mas a política é assim.
O PCP conseguiu aguentar (não devem ter morrido muitos militantes nos últimos tempos) e a extrema-esquerda conseguiu eleger o seu primeiro euro-deputado. Parece-me bem. Afinal, a extrema-esquerda também tem direito aos chorudos vencimentos que critica nos outros.
Aquilo que verdadeiramente me incomoda é que mais de 60% dos votantes tenha exercido o seu direito optando por partidos de esquerda.
AR

Friday, June 11, 2004

Instante

São tuas as gotas que correm em mim.
É tua a luz que vejo.
É teu o cheiro que sinto, assim.
Tudo é teu: luz, cor, eu, desejo.

São tuas as palavras que me guiam.
São teus os olhos que vejo.
São teus os sorrisos que me inebriam.
Tudo é teu: Sol, Lua, riso, gracejo.

É tua a alegria que sinto.
É teu o prazer de mim.
E se por ti por vezes minto

Não me importo um momento
Que seja. Nada me interessa,
Para além deste prazer de instante.

AR

Wish list

Agora que estamos na antevéspera do acto eleitoral para o Parlamento Europeu, gostava de deixar aqui a lista das coisas que me tinha agradado ver discutidas na campanha que não houve.
1) Reforço da Democraticidade das Instituições europeias. Tirando o Parlamento Europeu, eleito por sufrágio directo e universal (mas com poucas competências) todos os outros órgãos gozam de uma legitimidade indirecta, porque derivam de escolhas dos governos nacionais e não dos cidadãos. Gostava de ter visto esta questão ser discutida.
2) Defesa Europeia. Acho que era importante falarmos de defesa. Da criação de um eventual exército comum (ou, pelo menos, de Corpos de Exército). Da possibilidade de o fazer e do desejo (ou não) de levar a cabo essa empresa.
3) Política Externa. Para acabarmos de vez com esta confusão de uns dizerem sim e outros não e cada um fazer o que lhe apetece, ignorando o que poderia ser o interesse comum europeu. E para fazer sentido o Sr. PESC.
4) Harmonização Fiscal. Teria sido interessante ver discutida esta questão que me parece importante pelo pressuposto de justiça que julgo trazer. E pelas evidentes vantagens, para a União, que essa harmonização traria.
5) Política Social Comum. Seria muito bom que tivéssemos falado sobre política social, nomeadamente sobre a possibilidade de todos os cidadãos europeus usufruírem do mesmo tipo e qualidade de apoio fosse qual fosse o Estado da União onde se encontrassem.
6) A Reforma da PAC. A Política Agrícola Comum é o ‘Elefante Branco’ desta União. Consumindo quase metade dos recursos da União, beneficia principalmente os agricultores franceses, apoiando uma prática que fazia sentido nas décadas de 50 e 60 mas que não se justifica na actualidade, impedindo que esses recursos financeiros possam ser utilizados noutras áreas.

Teria sido bom se tivéssemos aproveitado estas duas semanas para falar sobre isto, não teria?
AR

Wednesday, June 09, 2004

In Memoriam

Faleceu Sousa Franco. Não partilhando do seu ideário político e sendo bastante crítico da sua acção enquanto governante, lamento a morte do homem, a do professor (de quem fui aluno) e do democrata. O nosso país ficou hoje mais pobre.
AR

Tuesday, June 08, 2004

Azul Mar

As gotas de água escorriam, serenas, pelos vidros da janela. João Lingualeve pensava em Geraldina e pensava nos seus olhos azuis de mar. Lembrou-se de subir à Torre e de lá ver esse mar que ficava tão longe, tão longe, que seria certamente impossível ver dali.
Os olhos de Geraldina traziam com eles a maresia e o cheiro de sal, traziam o canto doce das ondas e neles sentia a espuma que morria na areia. João Lingualeve sentia-se morrer naqueles olhos e não conhecia prazer maior.
Não sabia há quanto tempo olhava as gotas de chuva a escorrerem naquela janela. Também não sabia há quanto tempo se tinha afogado nos olhos de Geraldina. Talvez quando fosse moço e o seu corpo não estivesse ainda gasto e alquebrado.
Durante todos esses anos desde então conversara com o Tempo e o Tempo contara-lhe muitas histórias, tantas histórias, mas nunca lhe falara daqueles olhos azuis. Um dia perguntara-lhe ele sobre eles e o Tempo respondeu com a história de Samit, um homem que passara toda a sua vida a tentar impedir que o Deserto conquistasse o Oásis. Na hora de morrer, o Velho Samit sabia que o Deserto conquistaria o seu Oásis e chorou por não ter bebido da água cristalina das suas fontes.
As gotas de água escorriam, serenas, nos vidros da janela. A chuva continuava a caír e João perguntou-se se alguma vez teria a coragem de beber da água pura daquele Oásis ou se continuaria a transportar a areia do Deserto.
AR

Imperdível

O Canal 2 começou na semana passada a emitir a série "Angels in America". Depois do segundo episódio fiquei 'aficionado'. Al Pacino está, verdadeiramente, no seu melhor. Imperdível.
AR

Monday, June 07, 2004

Godspeed

"And come January, when I saddle up and ride into the sunset it will be with the knowledge that we've done great things. We kept faith with a promise as old as this land we love and as big as the sky. A brilliant vision of America as a shining city on a hill. Thanks to all of you, and with Gods help, America's greatest chapter is still to be written, for the best is yet to come."

...

"I've spoken of the shining city all of my political life, but I don't know If I ever communicated what I saw when I said it. But in my mind it was a tall, proud city built on rocks stronger than oceans, windswept, God-blessed, and teeming with people of all kinds living in harmony and peace: a city with free ports that hummed with commerce and creativity. And if there had to be city walls, the walls had doors and the doors were open to anyone with the will and heart to get there. That's how I saw it, and see it still."

Ronald Wilson Reagan

Os bata... quê?

Domingo à noite. Apenas os quatro canais nacionais. Zapping rápido, portanto. TVI, "Malucos do Riso". Como? Não! "Malucos do Riso" é SIC. Confirmação. Era a TVI, eram os "Malucos do Riso". Não pode ser. Os actores eram os mesmos, as piadas as do costume. Escassos segundos depois o desvendar do mistério: "Os Batanetes" (se é que percebi bem ...). Como compreendo o sentido do título "Malucos do Riso" mas não o de "Batanetes" fui ver ao dicionário. Nada. Apenas "Batalhar" (verbo intransitivo que significa 'Dar batalha, entrar em batalha, combater'; ou então um verbo transitivo que significa 'discutir, bater-se, argumentar, esforçar-se, procurar convencer alguém ou vencer alguma coisa, travar batalha') e "Batarda" (nome feminino, Zoologia, que significa o mesmo que "Abetarda" - que como todos sabem é uma grande ave gruiforme, de patas relativamente curtas, sendo que o macho é muito maior do que a fêmea, tem cabeça e pescoço acinzentados, grandes 'bigodes' brancos implantados próximo da base do bico, dorso castanho amarelado com bases escuras, ventre branco e peito acastanhado, preferindo as regiões aplanadas, com ervas altas, ou os terrenos cultivados, sem árvores'). Nada de Batanetes. Vi durante alguns minutos. Mais do mesmo. Pior (será possível?), porque pelo menos os "Malucos do Riso" apareceram primeiro e esta é cópia. Má cópia. Excelente programação para uma noite de Domingo.
AR

P.S. - Ah, é verdade, já me esquecia: e têm o título de cada anedota logo no início. Deve ser para compreendermos melhor.

Friday, June 04, 2004

A não perder ...

... este post d'O Acidental.
AR

Outros comícios

Comecei a ir a comícios muito novo. Recordo-me de estar no do 1º de Maio de 1974, em Coimbra. A festa/comício foi no Jardim da Sereia e lembro-me como se fosse hoje de andar sempre à volta dos meus pais a pedir dinheiro para comprar autocolantes. Sei que cheguei a casa com o peito cheio deles e particularmente orgulhoso de um grande e amarelo, que não me lembro já do que era ou de quem. O 1º de Maio de 1974, em Coimbra, foi um dia de Sol e estava calor.
Depois disso, lembro-me da manifestação de Lisboa em 1975, que reuniu os partidos democráticos que se opunham ao PC e a Vasco Gonçalves. Tinha sete anos e a Alameda D. Afonso Henriques tinha gente que nunca mais acabava.
Conto isto porque, como se vê pelos posts abaixo, tenho dedicado alguma atenção a esta coisa da política e sempre me vêm algumas imagens à memória.
Como se pode imaginar, na altura nem sabia o que era isso da política, mas gostava dos comícios porque eram festas. Festas grandes. Havia algodão doce e balões, normalmente em algum sítio grelhavam-se umas febras e, com sorte, ganhavamos uma bandeira. Se o tempo fosse frio não faltavam também os vendedores de castanhas assadas.
Há muito anos que não vou a comício nenhum. Não sei se ainda são festas. Mas sei que já não se enche a Alameda.
AR

Thursday, June 03, 2004

Cada um vai para onde quer

As coisas eram mais ou menos assim.
Os partidos maiores convocavam comícios nos espaços maiores: Alameda, Av. da Liberdade, Rossio ou outro espaço semelhante. Até podiam não os encher (convenhamos que é difícil encher a Alameda, embora eu a tenho visto duas vezes praticamente cheia: 1975 e 1985) mas pelo menos tentavam.
Os oradores subiam ao palanque e falavam do socialismo, ou da democracia e da liberdade, ou de uma sociedade melhor e propunham qualquer coisa. Podiam ser (e normalmente eram) propostas discutíveis, mas propunham coisas concretas: muitas não saíram do papel, outras foram feitas e não deviam, outras foram mal feitas e algumas foram bem feitas, mas para aqui o que importa é que sabíamos o que cada um propunha e o que cada um queria.
Quem se lembra desse período lembrar-se-á que o PCP (que na altura se apresentava às eleições a descoberto) propunha uma sociedade socialista com a inevitável ditadura do proletariado. O PS era marxista (disse-o Mário Soares) e preconizava o caminho para uma sociedade socialista mas sem passar pela ditadura do proletariado. O PPD ía buscar as suas influências às sociais democracias do norte da Europa (Escandinávia e Alemanha). O CDS era democrata cristão e bebia das democracias cristãs italiana e alemã.
Não me lembro nunca de Mário Soares acusar Cunhal de ter as sobrancelhas pretas e o cabelo branco ou de este tentar ridicularizar Sá Carneiro por ser baixo e ter um nariz enorme. Ou de Freitas ser acusado pelos outros de ser gordo, ou de Soares ter grandes bochechas. Nesse tempo, se alguém se lembra, a política tinha dignidade (mesmo no MRPP, que o diga Durão Barroso, que teve que devolver os sofás da Reitoria da Universidade de Lisboa), embora fosse combativa (muito) e marcada por (profundas) clivagens ideológicas.
Hoje, volvidos trinta anos, a batalha política é bastante diferente. As listas partidárias são compostas por um infindável número de barrascos e reduzidos mentais e o debate anda à volta da falta da orelha de um dos candidatos e da eventual concessão de uma tolerância de ponto.
A política não é mais do que um lodaçal onde se debate uma miríade de anões intelectuais que, falhos de ideias e propostas, não encontram nada melhor para fazer do que recorrer ao insulto e à demagogia fácil.
Eu acho que eles acham que nós somos estúpidos.
Eu acho que eles acham que nós não vamos votar porque vamos para a praia.
Eu acho que eles não sabem que estão enganados.

Se não formos votar não é porque vamos para a praia: é porque queremos que eles vão, todos, à merda. Que parece ser o único sítio onde se sentem bem.
AR

Wednesday, June 02, 2004

Já estão a cuspir no chão

Se há coisa que me envergonha é o facto de o meu partido estar coligado com um partidelho de extrema-direita que, falho de projecto político, dedica o seu tempo ao insulto e ao arrazoado torpe.
As últimas declarações (insinuações?!) sobre o Prof. Sousa Franco e as suas deficiências físicas, ilustram bem o tipo de canalha que dirige aquele partido e que, infelizmente, arrasta o meu pela lama.
Não vejo a hora de esta coligação da treta acabar!
AR