Chuva
Ouço a chuva bater na janela,
Insistente, teimosa, talvez aborrecida.
Não sei porquê e pergunto-lhe, de fugida,
Se me tem zanga ou aborreceu.
Não me responde. Apenas o mesmo som,
Toc-toc-toc, e as lágrimas do céu ali,
A caírem,
Cinzentas, frias, tristes.
Olho a janela e, por ela, o jardim lá fora.
Já não é verde.
De resto, nem lhe vislumbro a cor, sequer.
Apenas não é verde.
Nem são as flores já amarelas,
E a terra está empapada de tantas lágrimas.
Tristes, cinzentas, frias.
O quarto está quase escuro.
Não entra luz porque não a há.
Apenas um esgar pálido da janela me perturba,
Mais o toc-toc-toc da chuva nela e
O vidro molhado por onde a água escorre e
O vapor da minha respiração, que morre.
Volto a ouvir o toc-toc-toc.
Como gostava que fosses tu a chegar,
A dizer-me 'aqui estou',
Ou então 'como chove',
Mas não. É apenas o monótono bater da chuva
Na janela do quarto,
Fria, cinzenta, triste.
AR
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