Tuesday, June 15, 2004

A borboleta amarela

Por vezes, o calor era difícil de suportar. E ali estavam, fechados, a resistir ao chamar convidativo do dia. Não falavam um com o outro, mas isso não era importante porque sabiam os seus segredos mais íntimos.
A borboleta amarela volteou em torno deles e pediu-lhes para a seguirem. Ele levantou-se e estendeu-lhe a mão. Ela hesitou por um instante, os seus olhos verdes a mostrarem a luta que se desenrolava dentro de si.
Finalmente estendeu o braço e tocou os dedos dele. As paredes já ali não estavam. Elevavam-se agora no ar, leves, seguindo o voltear da borboleta amarela. A brisa morna da tarde beijava-lhes o rosto enquanto lá em baixo se desenhava uma longa linha de praia. A areia amarela parecia cintilar ao mesmo tempo que as ondas se aconchegavam no seu colo morno.
Desceram lentamente e tocaram a superfície da água. Estava fria. O Mar falou com eles e convidou-os a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Ela conduziu-os depois a um imenso prado verde, salpicado de papoilas. Os seus pés tocaram a terra e sentiram a sua frescura e as papoilas convidaram-nos a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Subiram então, e tocaram os mais altos cumes das mais elevadas montanhas. Ali o gelo nunca desaparecia e sentiram o seu frio quando lhe tocaram. Era branco e reflectia a luz do Sol como se do próprio Sol se tratasse e o Vento convidou-os a ficar. Mas não podiam aceitar o convite. Tinham que seguir a borboleta amarela.
Ela levou-os então mais alto, acima da mais alta das nuvens. Ali ficava a casa do Tempo. Nos seus imensos salões brincava a brisa da tarde, eterna, e o cheiro a jasmim parecia querer brincar às escondidas com eles. Dos seus jardins, suspensos entre os raios do Sol, a água cantava e chamava-os. Dali viam todos os mares e todas as praias, todos as montanhas e todos os prados, dali ouviam o chamamento do mar e das papoilas.
O Tempo não os convidou a ficar. Mas não mais largaram as mãos e ali ficaram, encantados pelo baile da borboleta amarela.
AR