Como já devem ter reparado, A Quinta Coluna voltou ao activo. Isso significa que este blog passará ao passivo ...
Não queria, no entanto, passar o Dor de Perdição ao estado de hibernação sem uma despedida. E, dado o actual momento do país, achei que nada melhor do que o poema que segue.
Trova do vento que passa
"Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de sevidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não."
Manuel Alegre
Dor de Perdição
Thursday, December 09, 2004
Wednesday, December 08, 2004
Thursday, December 02, 2004
Chuva
Ouço a chuva bater na janela,
Insistente, teimosa, talvez aborrecida.
Não sei porquê e pergunto-lhe, de fugida,
Se me tem zanga ou aborreceu.
Não me responde. Apenas o mesmo som,
Toc-toc-toc, e as lágrimas do céu ali,
A caírem,
Cinzentas, frias, tristes.
Olho a janela e, por ela, o jardim lá fora.
Já não é verde.
De resto, nem lhe vislumbro a cor, sequer.
Apenas não é verde.
Nem são as flores já amarelas,
E a terra está empapada de tantas lágrimas.
Tristes, cinzentas, frias.
O quarto está quase escuro.
Não entra luz porque não a há.
Apenas um esgar pálido da janela me perturba,
Mais o toc-toc-toc da chuva nela e
O vidro molhado por onde a água escorre e
O vapor da minha respiração, que morre.
Volto a ouvir o toc-toc-toc.
Como gostava que fosses tu a chegar,
A dizer-me 'aqui estou',
Ou então 'como chove',
Mas não. É apenas o monótono bater da chuva
Na janela do quarto,
Fria, cinzenta, triste.
AR
Tuesday, November 30, 2004
Thursday, November 25, 2004
Divagações XIV
O indigente continua lá. Já não tem os Assuntos Parlamentares, o que significa que vai, provavelmente, falar mais para ele do que para os outros, mas continua lá. Agora alguém diga que este Governo não se preocupa com os deficientes ...
AR
Tuesday, November 23, 2004
Teoria
Eu tenho uma teoria. Se fosse o meu amigo LR colocaria no ar, agora, o dedo indicador, mas como não sou, não coloco. E a minha teoria tem a ver com a RTP e com esta embrulhada da correspondente. Eu explico.
A moça que dizem que ficou em quarto lugar naquele concurso interno, de facto, ficou em primeiro lugar. Eu explico.
Ela ficou em primeiro lugar no concurso interno, mas foi encontrado, algures, no quarto de alguém. O quarto! Percebem agora. Quando se soube que ela estava no quarto, e por erro na passagem da mensagem, chegou ao público (nós) que ela tinha ficado em quarto. Errado.
Ora esse alguém, que estava algures, com outrém, podia ficar chateado. Aborrecido. Eu explico.
É que esse alguém, algures com outrém, foi apanhado. Quer dizer, estava com a moça que tinha ficado em primeiro e ... zás ... entraram pelo quarto dentro e agarraram-nos. Foram, repito, apanhados. Ora, quem entrou no quarto que ficava algures, olhou para os dois e foi(foram) mandado(s) calar, porque podia haver um sarilho. Eu explico.
O sarilho era porque alguém tinha sido apanhado algures num quarto com a moça que tinha ficado em primeiro lugar no concurso interno da estação de televisão que é vista aqui e ali, por este e por aquele. Isso dá sarilho porque não se sabendo quem é, onde estava e que tal, fica tudo no ar.
Claro agora?
AR
Tuesday, November 16, 2004
Esta tem graça
Vendo o peixe como o comprei. Mas ainda que não seja verdadeiro tem muita graça.
"Tradução de uma carta recebida recentemente pelo Comissário Europeu da Agricultura.
Senhor Comissário da Agricultura,
O meu amigo Robert, que vive na Bretanha, recebeu um cheque de 100.000 EUR da UE para não criar porcos este ano. Por essa razão eu estou a pensar entrar no programa de não-criação de porcos no próximo ano.
O que eu gostaria de saber era qual é a melhor quinta possível para não criar porcos e também qual a melhor raça a não criar. Gostaria de não-criar Javalis, mas se eles não forem uma boa raça para não-criar, fico igualmente satisfeito se puder não-criar uns Landrace ou uns Large White. O trabalho pior neste programa parece-me ser manter um inventário preciso do número de porcos que não criámos.
O meu amigo Robert está muito entusiasmado quanto ao futuro do seu negócio. Criou porcos durante mais de 20 anos e o máximo que tinha conseguido ganhar foram uns 35.000 EUR em 1978... até este ano, que recebeu o tal cheque de 100.000 EUR para a não-criação de porcos.
Se eu posso receber um cheque de 100.000 EUR para não-criar 50 porcos, então receberei
200.000 EUR por não-criar 100 porcos, etc.?
Proponho-me começar por baixo para depois chegar a não-criar uns 5000 porcos, o que significa que receberei um cheque de 10.000.000 EUR para poder comprar um iate e para outras necessidades urgentes.
Mas há outra coisa: os 5000 porcos que eu não criarei deixarão de comer os 100.000 sacos de milho que lhe estão destinados. Entendo, portanto, que irão pagar aos agricultores para não produzir esse milho. Isto é: receberei alguma coisa para não-produzir 100.000 sacos de milho que não alimentarão os 5000 porcos que não-criarei? Pretendia começar o mais cedo possível, porque parece que esta altura do ano é a mais propícia à não-criação de porcos.
Com os melhores cumprimentos,
(Assinatura ilegível)
PS : Mesmo estando implicado no programa poderei criar uns 10 ou 12 porcos para ter algum presuntito para dar à família?"
AR