Wednesday, August 18, 2004

Espírito Santo

Na altura era muito miúdo. Talvez por isso as imagens tenham ficam gravadas com mais nitidez na minha memória. Não me recordo é da altura do ano.
Todos os anos havia a festa do Espírito Santo. Nos Olivais, em Coimbra, no terreiro que ía do fundo das escadas da Igreja de Stº António até ao Pinheiro Manso, montava-se a Feira. As coisas do costume: as farturas, as loiças, os tachos, panelas e funis, as barracas com os matraquilhos e os carroceis.
Os matraquilhos intimidavam-me. Eu era pouco mais alto do que as mesas e a bola fazia um barulho seco enquanto corria de uma lado para o outro e embatia estrondosamente nas paredes do campo. E não sei como mas sujava-me sempre nos ferros lambuzados de óleo.
Do que eu gostava mesmo era dos carroceis. Principalmente o que tinha as girafas. Era enorme, com ondas, e fazia um túnel, o que era muito curioso e nunca mais voltei a ver em lado nenhum. Eu gostava das girafas. Ficava mais alto e sentia-me como uma pessoa crescida. Às vezes era minha prima Rosa, uns bons anos mais velha do que eu, que me acompanhava. Outras era o meu pai. Sentava-se na zebra que ficava mesmo ao lado da girafa ou num banco de jardim que vinha logo atrás. E o carrossel andava às voltas, às voltas, subia e descia, passava no túnel, e quando finalmente parava eu estava invariavelmente tonto mas feliz.
O terreiro do Espírito Santo é hoje uma circular da cidade. Nada deixa adivinhar as noites de festa de há 30 anos. Nem o jardim infantil do Pinheiro Manso, que ficava parcialmente dentro de um bosque e tinha a casa mais bonita de que me recordo, com as paredes forradas com pequenos azulejos azul-céu e desejos de histórias infantis. Tinha um grande relvado, que se perdia entre os pinheiros e deve ter sido o mais bonito jardim infantil do mundo.Às vezes tenho tantas saudades da feira do Espírito Santo ...
AR