Wednesday, September 01, 2004

A Nau Catrineta

Eu tenho andado muito calado, a observar esta história do barco. Mas como parece que a novela não vai acabar, também venho dar o meu palpite.
Tenho para mim que isto é mais um número de circo do que outra coisa qualquer.
Por um lado, debate a sério não se faz com barcos que têm contentores transformados em clínicas ginecológicas. E muito menos estando à espera que os outros lhe ponham um nome. Quando os que são contra o aborto conseguem ser eles a pôr o nome no barco está tudo estragado. Mais vale o barco ir embora porque agora ele é o Barco do Aborto. E este tipo de rótulo não ajuda nada à causa de quem teve a ideia de o ir buscar.
Por outro lado, a atitude do Governo é ou estúpida ou descuidada. Qualquer das opções me parece má. O barco não vem, evidentemente, ameaçar a soberania nacional. Se lá se podem ministrar medicamentos que provoquem posteriormente o aborto e isso ameaça a soberania nacional, então acho que é melhor o Sr. Ministro da Defesa e dos Assuntos do Mar preparar-se para uma tarefa ciclópica: fiscalizar os consultórios de todos os ginecologistas do país que possibilitam que as suas clientes abortem nas primeiras semanas de gestação. E prepare-se para prender muita gente.
Tudo tinha sido bem melhor se o Governo não tivesse tido um arremedo de autoridade. Falava-se do barco no dia em que chegasse e no dia em que se fosse embora. O barco tinha feito chegar a sua mensagem, o Governo tinha evitado fazer a figura triste que fez e nós tínhamos sido poupados a duas semanas de um patético número de circo.
AR