Friday, May 21, 2004

O mar

Sabes, quando olho para o mar penso muitas vezes naquilo que foi e não devia ter sido. Naquilo em que pomos o nosso empenho e está errado e em tudo o que o não recebe mas devia. Penso nos dias que deixamos de viver porque sim e afinal deviam ter sido porque não.
Quando olho para o mar penso naquilo que não foi e devia ter sido, no que não queriamos fazer mas devíamos. Penso naquilo para que chegamos atrasados porque estivemos a fazer outra coisa qualquer que afinal, bem vistas as coisas, nem interessava nada.
O mar. Não sei se sabes conversar com o mar mas eu aprendi e gosto muito. Se quiseres posso-te ensinar a falar com ele. O mar conversa gentilmente connosco, mesmo quando parece furioso. Conta-nos tanta coisa, já viu tanta coisa ...
Um dia disse-me que gostava de me ver, há já muito que não aparecia, que não me via por ali. Disse-lhe que devia estar enganado porque era a primeira vez que ali estava. Mas ... sabes, o mar nunca está enganado e respondeu-me que não, que já ali tinha estado muitas vezes muito tempo antes e mesmo antes disso.
Sabes, o mar ensinou-me que há semre um caminho por onde seguir e que há sempre mais uma oportunidade.
Sabes, quando converso com o mar fico sempre mais feliz. Porque o mar diz-me que vai estar sempre ali, sempre que precisar de falar com ele.
AR